Substância de potes é ligada a 13% das mortes por doenças do coração
Viva Bem
Uma classe de compostos químicos encontrados em potes plásticos para guardar comida, além de xampu, maquiagem, perfume e brinquedos para crianças, pode contribuir para mais de 10% de todas as mortes de doenças do coração de homens e mulheres de meia-idade no mundo. A conclusão é de um estudo publicado na segunda-feira no periódico eBioMedicine.
O que aconteceu?
Tipo específico de ftalato foi relacionado a mortes. Estudiosos rastrearam um ftalato específico: di(2-etillhexil)ftalato, também conhecido como DEHP. Ele é utilizado para tornar potes de armazenar comida, equipamento médico e outros itens de PVC (policloreto de vinil) mais macios e flexíveis. O composto está ligado a doenças do coração fatais, apontaram os pesquisadores.
Dados de cerca de 200 países foram coletados. Com o auxílio de dados ambientais e pesquisas populacionais de saúde em cerca de 200 países, os pesquisadores estimaram as percentagens de pessoas expostas ao DEHP em cada localidade no ano de 2018. Entre os dados analisados estavam amostras de urinas que continham o composto químico adicionado ao plástico.
Informações foram cruzadas com mortalidade de populações globais. O objetivo era entender do que se morria em cada região e o quanto, estatisticamente, estas mortes estariam relacionadas à exposição ao produto químico.
A pesquisa apontou que o DEHP pode ter contribuído para 356.238 mortes apenas em 2018. Ou seja, o ftalato estaria associado a mais de 13% de toda a mortalidade global por doença cardíaca entre homens e mulheres de 55 a 64 anos. As inflamações provocadas por essa substância causam, ao longo do tempo, maior risco de infarto e derrame.
Ftalatos contribuem para a inflamação sistêmica das artérias coronarianas, o que pode acelerar doenças existentes [do coração] e levar a eventos agudos, inclusive à morte. Os ftalatos [também] são conhecidos por desequilibrar a testosterona. [Em homens,] a testosterona baixa prevê doença cardiovascular em adultos.
Leonardo Trasande, professor de pediatria e saúde populacional da Universidade de Nova York e autor principal do estudo, à rede americana CNN
Ásia, Oriente Médio e Pacífico seriam regiões mais afetadas. Ao somar as mortes por doenças cardíacas no leste asiático e no Oriente Médio, cientistas descobriram que 42% estavam relacionadas ao DEHP. Já entre leste asiático e Pacífico, 32% delas têm relação com o composto plástico. Índia, China e Indonésia tiveram os maiores números de mortes ligadas ao ftalato; só na Índia o número passa de 100 mil em 2018.
Produção de plástico sem segurança pode explicar países mais afetados. Populações desses países podem sofrer maior exposição a esses compostos químicos porque passam por um momento de crescente produção de plástico, mas com menores restrições de segurança do que outras regiões, acreditam os pesquisadores. Em trabalhos anteriores, a ingestão de micropartículas de ftalatos já foi ligada a doenças como obesidade, diabetes, problemas de fertilidade e câncer.
Estudo não analisou o potencial impacto de outros tipos de ftalatos. Além disso, o DEHP não foi considerado a única causa de doença cardíaca nos casos analisados. O grupo de pesquisadores anunciou que o próximo passo é rastrear como as reduções em exposição aos ftalatos podem, ao longo do tempo, afetar os índices de mortalidade.