Genial/Quaest: após tarifa de Trump e pauta de taxação de super-ricos, Lula reverte tendência de queda na popularidade

16 de julho de 2025 às 14:38
PESQUISA

Foto: reprodução

Por redação com O Globo

Após uma sequência de quedas, a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu em meio ao embate com o presidente dos EUA, Donald Trump, e a campanha de taxação de super-ricos impulsionada por sua base, mostra pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (16). A taxa de desaprovação do governo recuou numericamente de 57% para 53% em relação à medição anterior, de 4 de junho. O percentual dos brasileiros que aprovam o governo passou de 40% para 43%. É a primeira melhora na avaliação depois de uma sequência de reveses iniciada em julho de 2024.

Apesar de as variações entre os levantamentos estarem dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, a distância entre as duas taxas caiu de 17 para 10 pontos. O instituto entrevistou 2.004 pessoas presencialmente entre os dias 10 e 14 de julho, de forma a capturar a reação da opinião pública ao “tarifaço” anunciado pelo presidente americano contra produtos brasileiros no dia 9. O nível de confiança na amostra, ou seja, a chance de os resultados refletirem a realidade nesses parâmetros, é de 95%.

A pesquisa mostra ainda que o percentual dos que cosideram o governo como negativo passou de 43% para 40%. Já os que se veem a gestão de forma positiva foram de 26% para 28%, mesmo índice dos que avaliam o governo como regular.

A perspectiva de reversão da crise de imagem do governo Lula, de acordo com os recortes da pesquisa, ocorreu sobretudo entre eleitores mulheres, de classe média, meia-idade e com posicionamento político mais de centro. As taxas permaneceram praticamente idênticas entre quem ganha até dois salários mínimos, demonstrando dificuldade em avançar entre os mais pobres. Mas o petista avançou entre brasileiros que recebem de dois a cinco salários mínimos, faixa de renda que seria beneficiada, por exemplo, com a proposta de isenção do Imposto de Renda.

"A recuperação do governo aconteceu na classe média, com maior escolaridade, no Sudeste. São os segmentos mais informados da população, que se percebem mais prejudicados pelas tarifas de Trump, e que consideram que Lula está agindo de forma correta até aqui, por isso passam a apoiar o governo", interpreta o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.

Essa adesão de fora do público cativo do PT também está relacionada com algumas propostas do governo, na opinião de analistas.

"A campanha da taxação dos super-ricos teve incidência, principalmente em outros segmentos que não as elites. Entre os não beneficiários do Bolsa Família, caiu muito mais a desaprovação. Ou seja, existe uma expansão para fora da bolha", analisa a cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Cerca de dois terços dos entrevistados concordam que os mais ricos devem pagar mais impostos para diminuir o peso dos tributos aos mais pobres, segundo a pesquisa — e 75% se mostram a favor de ampliar a faixa de isenção do IR, ainda que esse percentual caia para 60% quando a pergunta envolve a elevação do mesmo imposto aos “super-ricos”, assim denominados no questionário. O mote de “ricos contra pobres” também não é bem visto pela maioria (53%).

No caso do “tarifaço”, 44% veem Lula “mais certo” no embate com Trump, contra 29% que pensam o mesmo sobre o bolsonarismo. Essa vitória do governo se repete, inclusive, entre quem diz não ter posicionamento político, seja de esquerda ou de direita. Em contrapartida, quase oito a cada 10 brasileiros acreditam que o revés anunciado pelo presidente americano prejudicará de alguma forma as suas vidas e 84% dos entrevistados gostariam que governo e oposição trabalhassem juntos para enfrentar o problema.

A pesquisa anterior da Genial/Quaest havia sido feita poucos dias depois de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e recuar parcialmente de alguns trechos, sob fortes críticas. A avaliaçãonegativa do governo colocou Lula no mesmo patamar de Bolsonaro em momentos similares do mandato, quando o rival enfrentava os desdobramentos da CPI da Covid, em junho de 2021.

De lá para cá, o presidente Lula editou as medidas provisórias relativas ao imposto e sofreu uma grave derrota política no Congresso, com a derrubada dos decretos e a posterior judicialização do caso no Supremo. O governo, contudo, conseguiu emplacar nas redes sociais uma campanha por justiça tributária ancorada no discurso de “ricos contra pobres”, que respingou no Legislativo. Além disso, teve predominância no debate sobre a tarifa de 50% anunciada por Trump ao exaltar o espírito de “soberania nacional”.

A expectativa no Palácio do Planalto é que o cenário demonstre ter sido superada definitivamente a crise de imagem gerada pelo escândalo das fraudes nas aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com suspeitas de descontos indevidos por parte de associações cadastradas no sistema que podem somar R$ 6,3 bilhões, entre os anos de 2019 e 2025. O governo federal anunciou na semana passada a abertura do prazo de adesão das vítimas do esquema a um acordo de ressarcimento dos valores, com previsão de pagamento das parcelas ainda este mês.

Felipe Nunes acredita que a operação da Polícia Federal que mirou o esquema do INSS mascarou uma tendência de melhora na percepção sobre a economia em junho, sobretudo a inflação. O levantamento já havia demonstrado à época que menos entrevistados acreditavam que os preços de alimentos, combustíveis e contas de água e luz pioraram em 12 meses, ainda que esse diagnóstico ainda fosse majoritário na amostra.

Apesar da melhora, o petista ainda tem um longo caminho a percorrer para retomar os patamares identificados há um ano. Em julho do ano passado, o percentual de pessoas que aprovavam o governo Lula era maior do que os insatisfeitos, na ordem de 54% a 43%. A inversão de tendências, desde então, também foi registrada entre jovens e mulheres, além de refletir empate técnico entre os mais pobres, com a avaliação negativa crescendo mesmo entre beneficiários do programa Bolsa Família, ativo do PT e de Lula.