Mesmo sob críticas, Caetano insiste: “Deus Cuida de Mim” faz parte do show

Fuxico Gospel

Durante a turnê conjunta com a irmã Maria Bethânia, o cantor e compositor Caetano Veloso causou surpresa ao interpretar a canção “Deus Cuida de Mim”, sucesso do pastor Kleber Lucas, em seu repertório solo. A escolha, inusitada para o perfil artístico do baiano e para a audiência majoritariamente secular da dupla, provocou reações diversas nas redes sociais.

O próprio Caetano comentou sobre a recepção da música em um comunicado feito no domingo, 1º de junho. Segundo ele, a performance da faixa não despertou grande entusiasmo da plateia, o que já era esperado:
“Notei que a maioria reagia de forma morna, mas também vi algumas pessoas se emocionando e cantando comigo. Minha atenção estava voltada à canção em si”, relatou.

Em entrevistas anteriores, o artista já havia antecipado a frieza do público em relação à música de temática evangélica, admitindo que “essa é a única canção que não recebe aplausos entusiasmados”. Para ele, é compreensível que parte da audiência não se identifique com referências religiosas, especialmente ligadas ao universo das igrejas evangélicas.

Apesar da repercussão dividida — e das críticas pontuais vindas de fãs com posições ateístas mais militantes —, a presença de conteúdos espirituais na obra de Caetano Veloso não é novidade. Desde o início da carreira solo, ainda nos anos 1960, o artista explora elementos da fé e da religiosidade popular em suas composições.

Entre os exemplos, destacam-se a versão da “Ave-Maria” em latim no seu primeiro disco solo (1967), a faixa “Escapulário” (1975), que combina a poesia de Oswald de Andrade com o Pai Nosso, além de títulos como “Peço a Deus” (década de 1980), “Graça Divina” (2002) e uma reinterpretação de “Ave Maria” em 1999.

A inclusão de uma música gospel, portanto, está longe de representar uma guinada repentina. No entanto, o atual contexto político e ideológico de Caetano Veloso pode ter remodelado a expectativa do público, especialmente após sua postura mais engajada nos últimos anos.

Ainda assim, o cantor reafirma seu desejo de dialogar com os dilemas contemporâneos por meio da música. Ele destacou que inserir faixas como “Deus Cuida de Mim” é também uma maneira de refletir sobre os tempos atuais e sobre as transformações da sociedade.

Durante suas apresentações, Caetano também fez elogios à banda BaianaSystem, reconhecendo o papel do grupo na valorização da cultura baiana e na promoção de uma atmosfera de celebração que se opõe à violência.

Com a inclusão de canções espirituais e posicionamentos sociais claros, Caetano Veloso mantém sua marca: a de um artista disposto a provocar reflexão — mesmo quando isso significa desafiar as expectativas do próprio público.