Trump propõe cúpula com Xi e Putin para redesenhar ordem global
UOL
O presidente Donald Trump quer promover uma cúpula com os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin. Descartando qualquer envolvimento de órgãos internacionais, da ONU ou blocos como o G20, o americano afirmou que sua ideia é de que os líderes das três potências entrem num pacto para reduzir os gastos em armas —principalmente nucleares— e que fique estabelecido um novo entendimento geopolítico entre eles.
Diplomatas e analistas apontaram que, se concretizada, a iniciativa poderia ser comparada às reuniões que ocorreram nos últimos meses da Segunda Guerra Mundial em Yalta ou Potsdam, quando líderes de ideologias opostas se encontraram para desenhar a ordem mundial que acabou prevalecendo na segunda metade do século 20.
Nesta sexta-feira, o que pode ser o primeiro passo desse esforço para redesenhar o mapa mundial vai ocorrer na Alemanha. O encontro entre o vice-presidente dos EUA, JD Vance, e autoridades ucranianas e russas é a aposta para destravar um impasse que já dura mais de dez anos entre os dois vizinhos.
Mas, ao falar sobre seus planos para a Ucrânia, Trump insistiu que o país europeu não poderia nem fazer parte da Otan e nem pensar em recuperar todas suas fronteiras. Questionado sobre o que Putin teria de ceder, o americano desconversou. Sua proposta caiu como uma bomba entre diplomatas europeus, visivelmente pegos de surpresa por uma virada de 180 graus na posição dos EUA em relação ao conflito em Kiev.
A transformação foi considerada como uma "abalo sísmico" na diplomacia mundial. Nos últimos 20 anos, uma das metas dos EUA era o enfraquecimento da Rússia, justamente afastando-a dos centros de decisão.
Para Paris e Berlim, a proposta é vista como uma ameaça de marginalização dos europeus no cenário internacional. Nas diferentes capitais do Velho Continente, reuniões de emergência foram realizadas para tentar entender qual seria o futuro da relação entre EUA e Europa.
Um dos elementos centrais foi a repercussão da declaração de Trump que, nesta quinta-feira, afirmou que a guerra na Ucrânia começou justamente por conta das intenções de Kiev de se unir à Otan.
O plano de Trump inclui retomar a participação da Rússia no G7, algo que foi encerrado em 2014 depois da anexação da Crimeia por Moscou. "Foi um erro retira-los", disse Trump.
O passo seguinte seria uma cúpula entre ele, Putin e Xi. Isso, porém, seria quando "as coisas se acalmarem". "Quero dizer a eles: vamos cortar nossos orçamentos militares pela metade", disse.
Sua proposta também inclui cortar seus arsenais nucleares. "Não há razão para construirmos novas armas nucleares. Já temos muitas", disse Trump. "Elas poderiam destruir o mundo 50 vezes, cem vezes. E aqui estamos nós construindo novas armas nucleares, e eles estão construindo armas nucleares", lamentou.
"Todos nós estamos gastando muito dinheiro que poderíamos estar gastando em outras coisas que são, na verdade, esperamos, muito mais produtivas", disse Trump.
Ainda que a liderança nos estoques de ogivas seja de americanos e russos, Trump acredita que a China poderia alcançá-los em cinco ou seis anos.
Em seu primeiro mandato, Trump tentou incluir a China nas negociações de redução de armas nucleares quando os EUA e a Rússia estavam avaliando uma extensão de um pacto conhecido como New Start. Não apenas Pequim não aderiu como, logo depois, o processo entrou em colapso.
A proposta ocorre, de fato, num momento em que as principais potências militares do mundo ampliam de forma dramática seus investimentos em armas nucleares, ampliando a tensão internacional. Dados divulgados pela ICAN —a campanha internacional pelo banimento de armas nucleares— revelam que US$ 91 bilhões foram gastos em bombas atômicas por parte da China, França, Índia, Israel, Coreia do Norte, Paquistão, Rússia, Reino Unido e EUA em 2023 e 2024.
Isso equivale a US$ 173 mil por minuto, ou US$ 2,8 mil por segundo.