Caso de intolerância religiosa em terreiro de Maceió reacende debate sobre abordagem policial
Por Gabriela Garrido, Lívia Rebecca e Afranio Aquino/Francês News
Um caso de intolerância religiosa qualificada no bairro Benedito Bentes, em Maceió (AL), expõe a violação da liberdade de culto e levanta críticas à conduta de policiais militares durante uma abordagem. O episódio envolveu um pai de santo que teve seu terreiro invadido por dois PMs após uma denúncia de um vizinho sobre o som dos atabaques.
De acordo com o relato do babalorixá, registrado em vídeo, os agentes entraram no espaço religioso no final de uma cerimônia, gritando palavrões e ordenando que parassem com a "porra". Ele questionou se a mesma abordagem truculenta seria usada em uma igreja católica ou evangélica – pergunta que os policiais não souberam responder.
Delegada confirma crime e propõe solução
A delegada Rebeca Cordeiro, responsável pelo caso, confirmou à reportagem do Francês News os indícios de intolerância religiosa e abuso de autoridade. Ela destacou que, embora a guarnição tenha sido acionada, a forma desrespeitosa e grosseira da intervenção foi ilegal. "Ela entraria dessa mesma forma numa igreja católica ou num templo evangélico? Acredito que não", afirmou.
Como solução, a delegada propõe a criação de um Procedimento Operacional Padrão (POP) específico para abordagens em espaços religiosos, através da articulação entre Secretaria de Direitos Humanos, Polícia Civil, PM e Defesa Social. A medida incluiria letramento racial e religioso para os policiais, visando evitar a repetição de casos como este.
Líder religioso denuncia padrão de abuso
Pai Célio de Iemanjá, coordenador da Rede Alagoana de Povos de Matriz Africana, que apoia a vítima, afirmou que não é a primeira vez que agentes do 5º Batalhão da PM agem com truculência contra terreiros no Benedito Bentes. "Isso não acontece com outras religiões", denunciou.
O babalorixá agredido registrou boletim de ocorrência e, apesar do medo de represálias por morar na periferia, segue com o apoio de outros sacerdotes. O caso ilustra um padrão de violência institucional que exige mudança estrutural na formação e atuação das forças de segurança em Alagoas.