Após decisão judicial, Sindatran diz que deputado explorou agentes para ganhar capital político
Por Francês News
O presidente do Sindicato dos Agentes Municipais de Trânsito de Alagoas (Sindatran), Dyego Benetti, afirmou que o deputado estadual Lelo Maia (União Brasil) vem utilizando a fiscalização de trânsito como instrumento de capital político, ao mesmo tempo em que estimula, ainda que indiretamente, crimes e hostilidade contra servidores públicos. A declaração ocorre após decisão da Justiça de Alagoas que determinou a retirada de publicações ofensivas feitas pelo parlamentar contra a categoria, sob pena de multa que pode chegar a R$ 100 mil.
Segundo Benetti, o discurso adotado pelo deputado explora a fiscalização de trânsito poara ganhar visibilidade política. “A gente aborda desde o pedreiro, a mãe que leva o filho à escola, até o desembargador, o milionário que circula na cidade. Todo mundo passa pela fiscalização, e ele explora isso para instigar a população contra a categoria”, afirmou.
Para o presidente do Sindatran, a estratégia ultrapassou o debate político e passou a configurar prática criminosa. Benetti relatou que, nas redes sociais do deputado, há comentários incentivando violência contra os agentes, inclusive com menções a ataques físicos e destruição de patrimônio público. “Isso não é censura. O que está sendo feito é impedir a continuidade de uma prática delituosa. Há comentários falando em tacar fogo na sede, em matar agentes de trânsito, e alguns chegam a ser fixados nas postagens. Isso é instigação clara a crime”, disse.
O dirigente sindical também rebateu a narrativa de que os agentes fariam parte de uma suposta “indústria da multa”.
Segundo ele, o parlamentar induz a população ao erro ao sugerir que os servidores teriam ganhos financeiros com a aplicação de penalidades.
“Nosso salário não tem qualquer relação com arrecadação. O deputado chega a citar uma lei que nem está em vigor e demonstra desconhecimento do arcabouço legal que rege o município de Maceió. Isso é feito de má-fé para manipular uma população que, muitas vezes, tem pouco conhecimento da legislação de trânsito”, afirmou.
Benetti alertou que esse tipo de discurso gera efeitos concretos na segurança pública. “Quando você instiga a população contra o agente de trânsito, você intimida a categoria. Isso pode levar à redução da fiscalização, ao adoecimento psicológico dos servidores e até ao afastamento do trabalho. O resultado é mais acidentes, mais congestionamentos e mais custos para o SUS”, explicou.
Ele citou situações cotidianas que deixam de ser atendidas quando há menos agentes nas ruas. “Um carro quebrado fica mais tempo na via, um veículo parado sem iluminação à noite vira risco de colisão, uma pessoa em crise de pânico deixa de receber apoio imediato. Tudo isso poderia ser evitado com a simples presença do agente de trânsito”, disse.
O presidente do Sindatran afirmou que a decisão judicial, embora importante, não encerra o conflito. “Esse é apenas o primeiro passo. O deputado é advogado, é parlamentar, e outras instituições precisam se manifestar. O Ministério Público, como guardião dos direitos coletivos, também deve avaliar essa conduta”, declarou.
Atualmente, Alagoas conta com cerca de 466 agentes de trânsito, sendo pouco mais de 200 em Maceió, número considerado insuficiente. De acordo com Benetti, recomendações nacionais indicam a necessidade de até 400 agentes atuando diariamente apenas na capital. “Mesmo assim, a gente tira água de pedra para manter o trânsito funcionando e prestar apoio à população”, concluiu.