Operação da PF expõe vínculo milionário: secretário de Saúde de AL era sócio de clínica que recebeu mais de R$ 21 milhões da pasta

16 de dezembro de 2025 às 15:14
Política

Operação Estágio IV foi deflagrada nesta terça-feira (16) - Foto: Polícia Federal/Divulgação

Por Francês News

A Operação Estágio IV da Polícia Federal, que afastou o secretário de Saúde de Alagoas Gustavo Pontes, escancarou um dos núcleos das suspeitas: o vínculo milionário do gestor com a Clínica NOT – Núcleo de Ortopedia e Traumatologia, alvo de mandados de busca. A clínica, da qual Pontes foi sócio proprietário, recebeu R$ 21,9 milhões da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) desde o início do governo Paulo Dantas.

Investigação anterior do site Quarto Poder revelou a sequência cronológica que levanta fortes indícios de conflito de interesses:

01/06/2023: Gustavo Pontes deixa formalmente a sociedade da Clínica NOT.

12/06/2023 (11 dias depois): A NOT envia um Plano Operativo à Sesau para integrar o Programa Mais Saúde.

O contrato, sob gestão do próprio secretário Pontes, previa um repasse mensal de meio milhão de reais à clínica.

Apesar de não constar mais no CNPJ, o nome de Gustavo Pontes permanece listado como ortopedista no corpo clínico da NOT no site da clínica.

Durante a operação, a PF apreendeu cerca de R$ 616 mil em espécie, R$ 300 mil em joias, US$ 24 mil e € 10 mil em moeda estrangeira. A ação, que investiga desvio de recursos e lavagem de dinheiro, cumpriu 38 mandados e prendeu uma pessoa. Gustavo Pontes foi afastado por 180 dias por ordem judicial.

O secretário foi nomeado por Paulo Dantas, quando exercia um "mandato tampão" em 2022 e mantido no cargo. A descoberta do fluxo financeiro massivo da Sesau para uma clínica até recentemente ligada ao seu gestor máximo coloca sob lupa a fiscalização e a ética na aplicação de recursos públicos da saúde alagoana, que já enfrenta denúncias de atrasos a hospitais e falta de insumos.

A operação da PF joga luz sobre uma relação que exemplifica as suspeitas de desvio que corroem o sistema de saúde do estado, com um secretário no centro de uma teia que mistura gestão pública, negócios privados e agora, uma investigação criminal por desvios que superam os R$ 118 milhões.