A África está se partindo? Estudo revela novo oceano que estaria surgindo no continente
14 de outubro de 2025 às 15:07
Mundo
Foto: Reprodução/Pixabay
Por Uol
Uma pesquisa revelou o que pode ser o nascimento de um novo oceano no coração da África. Segundo um estudo publicado na revista Nature Geoscience, pulsos rítmicos de rocha derretida estão subindo das profundezas da Terra, sob o leste do continente, e lentamente rasgando a crosta africana ao meio.
O que aconteceu
- Região de Afar, na Etiópia, está situada sobre uma pluma de manto quente que se comporta como um coração pulsando. A pesquisa, liderada por cientistas das universidades de Southampton e Swansea, no Reino Unido, confirma que, a cada "batida", envia ondas de calor e material fundido para cima, enfraquecendo a crosta terrestre;
- Descobrimos que o manto sob Afar não é uniforme nem estacionário. Ele pulsa, e esses pulsos carregam assinaturas químicas distintas. Essas pulsações ascendentes de manto parcialmente derretido são canalizadas pelas placas em rifte acima delas. Isso é importante para entendermos como o interior da Terra interage com sua superfície, disse Emma Watts, pesquisadora da Universidade de Swansea e autora principal do estudo.
- m continente se partindo ao meio. A região de Afar é uma das mais instáveis do planeta. Ali, três grandes falhas tectônicas se encontram: o Rifte do Mar Vermelho, o Rifte do Golfo de Áden e o Grande Rifte Etíope. Essa junção tripla é o cenário perfeito para o rompimento continental que, segundo os cientistas, já começou;
- Conforme as placas tectônicas se afastam, a crosta se estica e se torna mais fina até se romper. Esse processo marca o início de uma nova bacia oceânica, algo que pode levar milhões de anos para se concretizar;
- A equipe internacional envolveu especialistas de dez instituições, incluindo universidades do Reino Unido, Itália, Alemanha e Etiópia. Juntos, eles analisaram amostras e dados geofísicos que ajudaram a revelar o comportamento do manto sob a região;
O coração do planeta bate sob a Etiópia
- Os pesquisadores coletaram mais de 130 amostras de rochas vulcânicas em toda a área de Afar. Ao analisar a composição química, descobriram padrões que se repetem, como se fossem códigos de barras geológicos. Esses padrões indicam que o manto pulsa de forma constante e organizada;
- As faixas químicas sugerem que a pluma pulsa, como um batimento cardíaco. Esses pulsos se comportam de forma diferente dependendo da espessura da placa e de como ela se move. Em riftes que se expandem mais rapidamente, como o do Mar Vermelho, as pulsações se propagam de maneira mais eficiente e regular, como o sangue fluindo por uma artéria estreita, disse Tom Gernon, professor da Universidade de Southampton, em nota da Universidade de Swansea.
- Esse movimento contínuo faz com que o manto aqueça e desgaste lentamente a crosta terrestre. O resultado é uma sequência de vulcões ativos e terremotos frequentes, sinais de que o continente está literalmente se partindo em dois;
- O futuro: um novo oceano nasce na África? Segundo os cientistas, o processo ainda está em estágio inicial, mas o resultado final é inevitável. Com o tempo, a água do mar deve invadir a fenda crescente, formando um novo oceano e separando o Chifre da África do restante do continente, de forma semelhante ao que ocorreu quando o Atlântico se abriu há milhões de anos;
- A evolução das elevações profundas do manto está intimamente ligada ao movimento das placas acima. Isso tem implicações profundas para como interpretamos o vulcanismo de superfície, a atividade sísmica e o processo de fragmentação continental, Derek Keir, pesquisador da Universidade de Southampton e coautor do estudo.
- Essas correntes profundas podem fluir sob as bases das placas tectônicas e concentrar a atividade vulcânica onde a crosta é mais fina. O grupo agora pretende estudar a velocidade e a dinâmica desse fluxo subterrâneo;
- Trabalhar com pesquisadores de diferentes áreas é essencial para desvendar os processos que acontecem sob a superfície da Terra e relacioná-los ao vulcanismo recente. Sem o uso de várias técnicas, é difícil enxergar o quadro completo, como montar um quebra-cabeça sem ter todas as peças, Emma Watts, da Universidade de Swansea.