Após tarifaço de Trump, Lula diz que país é 'soberano' e vai 'cobrar imposto das empresas americanas digitais'
Por redação com O Globo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar nesta quinta-feira presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pelas tarifas de até 50% impostas a produtos brasileiros. Durante discurso no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), em Goiânia, Lula classificou a medida como uma afronta à soberania nacional e prometeu retaliar com a taxação de empresas digitais americanas.
"O Brasil tem 201 anos de relações diplomáticas com os EUA e um déficit comercial de US$ 410 bilhões em 15 anos. Não aceitamos a ideia de o presidente mandar um e-mail dizendo que, se não liberarmos o Bolsonaro, vai aplicar uma tarifa de 50%. Vamos responder como democratas: não aceitamos que ninguém se meta nos nossos assuntos internos", disse.
Lula ainda criticou diretamente Trump, a quem se referiu como “gringo”, e citou sua origem humilde:
"Eu comi pão pela primeira vez com sete anos de idade. Não é agora que vou aceitar ordem de gringo. Ele [Trump] disse 'não quero que as empresas americanas, as empresas de plataforma, sejam cobradas no Brasil'. O mundo tem que saber que esse país só é soberano porque o povo é soberano tem orgulho desse país. Eu queria dizer pra vocês que a gente vai julgar e cobrar imposto das empresas americanas digitais."
Críticas a militares e Bolsonaro
O presidente também voltou a comentar o inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022:
"É a primeira vez que temos generais de quatro estrelas presos por tentarem dar um golpe, com insinuações de que precisavam matar Lula, Moraes e meu vice. Não tiveram coragem. Essa gente vai ser julgada, e quem está julgando são os ministros", afirmou.
Lula ainda disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve ser responsabilizado pela condução da pandemia de Covid-19:
"Ele ainda vai ser processado pela Covid, pelas mortes causadas pela irresponsabilidade dele. Agora está pedindo apoio dos Estados Unidos. Quem abraça a bandeira americana é um patriota falso. Bolsonaro que transfira o título para lá e vote nos EUA."
Soberania e educação
O evento da UNE, intitulado “O Brasil se une pela soberania”, reuniu cerca de três mil pessoas, segundo estimativa da entidade. O ministro da Educação, Camilo Santana, também defendeu a soberania nacional e a justiça tributária:
"Precisamos de justiça tributária. Os ricos têm que pagar mais, os pobres menos. Assim teremos mais recursos para a educação. E precisamos lutar pela soberania. É injustificável a chantagem que Trump está fazendo", disse.
A visita ocorre em território politicamente adverso ao governo. Goiás é governado por Ronaldo Caiado (União Brasil), aliado da direita e cotado como possível presidenciável em 2026. Em Goiânia, Bolsonaro venceu no segundo turno das eleições de 2022 com 63,95% dos votos.
Na entrada do evento, houve um princípio de confusão entre estudantes e um apoiador de Bolsonaro, que vestia uma camiseta com o rosto do ex-presidente. O bolsonarista foi empurrado, e a discussão foi contida por policiais