Advogado diz que piloto de balão que caiu em SC 'salvou 12 pessoas'
Folha
A defesa de Elves de Bem Crescêncio, que operava o balão que caiu em Praia Grande (SC) neste sábado (21), afirmou nesta segunda-feira (23) que não acredita no indiciamento do piloto e que considera que ele salvou 12 pessoas que estavam à bordo.
"Se ele não tem a experiência e a coragem de baixar o balão, todos tinham morrido. A gente espera que não haja indiciamento e entende que o Elves salvou 12 pessoas", disse o advogado Clovis Rogério Scheffer, em entrevista à Folha.
Elves é o principal proprietário da empresa Sobrevoar, que opera há cerca de quatro anos em Praia Grande com balão de turismo. Ele já foi ouvido pela Polícia Civil de Santa Catarina, que investiga as causas do acidente, que matou oito pessoas. Outras 13 sobreviveram, incluindo o piloto.
O inquérito ainda está em andamento, mas, para o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, o piloto pode ser "responsabilizado dolosa ou culposamente pelas consequências, que são as mortes e as lesões nas vítimas". "Na minha visão, ele não poderia ter abandonado o balão. Há um indicativo de responsabilidade por parte do piloto", disse ele à Folha.
Já o advogado do piloto diz que Elves fez "o possível e o impossível" para salvar os passageiros. "Era um voo normal, ganhava altitude, e, depois de uns quatro, cinco minutos, ele percebe que, no chão do cesto, dentro do cockpit, tinha uma chama. Ele tenta apagar com o pé, não consegue. Pega o extintor de incêndio, tira o lacre, e não funciona. Tenta retirar a capa do botijão e não consegue", disse o advogado.
Segundo ele, antes do voo, foi verificado que o extintor estava cheio e dentro da validade.
"O fogo começa a aumentar e, mesmo a 400 metros de altura, ele vai com os pés para a borda do cesto para puxar a corda, que abre a parte superior do balão, e faz com que o balão desça, que vá para o chão. E ele fez esta manobra. O balão desceu. E ele avisa para as pessoas pularem no momento em que o balão tocasse o chão", disse ele.
"Algumas pessoas pulam, outras são ejetadas do cesto. E por algum motivo essas oito pessoas não conseguem. Aí o balão fica mais leve, volta a ganhar altura, e fica descontrolado. Aí acaba acontecendo a fatalidade", continuou Scheffer.
Com a saída de 13 pessoas do cesto, o balão perdeu peso e subiu rapidamente, carregando oito pessoas que não conseguiram saltar. Depois, com o balão já em chamas, quatro passageiros ainda pularam do cesto, já em uma altura de 150 metros, aproximadamente, na avaliação de pilotos de helicópteros que atuaram na ocorrência. Outras quatro pessoas ficaram no cesto, que foi consumido pelas chamas até despencar no chão.
Tanto os quatro que pularam quanto os quatro que ficaram no balão morreram.
O defensor também disse que aguarda o resultado das perícias para entender como o fogo começou. Inicialmente, ainda no sábado, o piloto chegou a relatar à Polícia Civil que o incêndio foi provocado por um maçarico que estava no cesto. Nesta segunda, contudo, o advogado ponderou à reportagem que não é possível ter certeza disso.
"Ele não tinha usado o maçarico. Deduziu que pudesse ter saído uma fagulha, mas ele não tinha usado", afirmou ele.
Segundo o advogado, Elves tinha mais de 700 horas de voo e estava habilitado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para atuar como piloto do balão. A agência, porém, afirma que ele não tinha a documentação necessária para fazer vos comerciais.
"Elves está passando por um momento muito difícil, está extremamente abalado, numa condição psicológica muito ruim. Aquilo era a vida do Elves. Ele tinha uma carreira de advogado e abriu mão para pilotar", afirmou Scheffer.
A empresa decidiu suspender as atividades por tempo indeterminado.