Paulo Cupertino é condenado a 98 anos de prisão por matar a tiros ator e pais dele em SP
g1
Segundo o Ministério Público (MP), Cupertino matou o artista e a família da vítima com 13 tiros por não aceitar o namoro do rapaz com a sua filha Isabela Tibcherani, que tinha 18 anos à época. Rafael estava com 22. Câmeras de segurança gravaram o crime na frente da casa da jovem e a fuga do assassino.
Rogério Zagalo, promotor do MP-SP, disse ter se surpreendido com a pena: "Porque o Brasil tem uma cultura chamada cultura da pena mínima, e o Judiciário tem que começar a pensar como esse juiz que jogou essa causa hoje, nós temos que fazer condenações pensando entre outras coisas também, nas consequências do ato ilícito. E nesse caso específico, da mesma família, foram eliminadas três vidas, então é um caso que realmente é muito grave".
O empresário, no entanto, negou o crime quando foi interrogado no primeiro dia de júri.
"Impossível eu ter cometido esse crime. Não tinha motivo, nunca existiu crime premeditado", chegou a dizer no plenário. “Nunca na minha vida tive conhecimento do Rafael, João e Miriam. Como posso ter cometido o crime se nunca tive acesso a eles.”
O que Cupertino disse no interrogatório:
No alto, da esquerda para a direita: Eduardo Jose Machado, Paulo Cupertino Matias e Wanderley Antunes Ribeiro Senhora. Os três são réus no processo que apura os assassinatos de Rafael Henrique Miguel e dos pais dele, João Alcisio Miguel e Miriam Selma Silva Miguel — Foto: Reprodução/TV Globo e Arquivo pessoal
- Cupertino negou o crime, dizendo que saiu da casa e viu os três corpos (de Rafael e dos pais) na rua;
- negou que a silhueta de um vídeo de câmera de segurança que mostra um homem e as três vítimas é a dele;
- que viu ainda “vagabundos” fugindo, sugerindo que eles cometeram os assassinatos;
- que se arrepende de não ter ido atrás deles;
- que não os denunciou na delegacia por medo do que poderia acontecer com a sua família;
- que a imagem de outra câmera que mostra ele fugindo ocorreu mesmo e é ele porque estava com medo dos “vagabundos”;
- falou ainda que não fugiu e nem se escondeu. E que estava trabalhando
Após os assassinatos, o empresário se escondeu em outros estados e países. Ele só foi preso quase três anos depois do crime, em 2022.
Além de Cupertino, também foram interrogados na quinta-feira (29) outros dois réus no processo: Wanderley Antunes e Eduardo Machado, acusados de ajudado a fugir e se esconder após o crime. Eles respondem em liberdade a acusação de favorecimento pessoal por terem ajudado o empresário a fugir e se esconder após o crime. Os dois também se disseram inocentes.
Isabela Tibcherani e Rafael Miguel eram namorados até o pai dela matar o ator a tiros em 2019 — Foto: Reprodução/Redes sociais
Foram ouvidas sete testemunhas no total. Entre elas, Isabela e Vanessa Tibcherani, respectivamente, a filha e a ex-esposa de Cupertino. As duas contaram que não viram como Rafael, Miriam e João foram baleados, mas disseram na audiência que quem os matou foi Cupertino.
“Foi muito rápido, questão de segundos. Ouvi os disparos, me abaixei e comecei a gritar ‘não, não e fui para fora’”, disse Isabela.
“O que posso dizer é que ele assassinou as três pessoas a sangue frio”, contou Vanessa no julgamento.
Cupertino chegou algemado, acompanhado por dois policiais militares, e começou a ser interrogado por volta das 18h30 de quinta, já sem algemas. O primeiro dia de julgamento foi encerrado às 22h30. O réu só respondeu às perguntas da defesa, feitas por suas advogadas.
E avisou ao juiz que não queria responder aos questionamentos da acusação. Por isso o Ministério Público não o indagou sobre o crime. O MP foi representado pelos promotores Thiago Marin e Rogério Leão Zagallo.
Na fase final do julgamento de Paulo Cupertino, nesta sexta-feira (30), a defesa questionou a falta de provas concretas apresentadas pelo Ministério Público. As advogadas Juliane Oliveira e Miriam Souza afirmaram que não há testemunha ocular, que a denúncia é baseada em suposições e que Cupertino é um cidadão comum. Disseram ainda que ele fugiu por medo de linchamento midiático e circulou por dez estados e dois países. Criticaram também a ausência de análise pericial das cápsulas encontradas no local do crime.
Durante a tréplica, Cupertino permaneceu calado ao lado das advogadas e se emocionou ao saber que a filha retirou seu sobrenome. Em determinado momento da argumentação, ele abaixou a cabeça e esfregou as mãos no rosto. A defesa mostrou uma carta escrita pela sobrinha dele dizendo o quanto o Cupertino era amoroso, além de imagens da prisão, alegando comemoração indevida por parte da polícia.
O primeiro julgamento de Cupertino em 2024 foi anulado pela Justiça e remarcado para essa semana após o réu demitir seu advogado ainda no plenário.
O ator era conhecido na mídia por ter interpretado o personagem Paçoca na novela "Chiquititas", do SBT, e trabalhado em um famoso comercial de TV em que uma criança pede brócolis à mãe. Ele também atuou em novelas da Globo, como “Pé na Jaca”, “Cama de Gato” e o especial de fim de ano “O Natal do Menino Imperador”.
Cupertino está preso preventivamente no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarulhos, na Grande São Paulo.