Ofensiva de Trump contra Brasil tem como meta influenciar eleição de 2026
UOL
O governo de Donald Trump considera que a eleição no Brasil, em 2026, é uma peça fundamental para seus planos para consolidar uma agenda ultraconservadora no Hemisfério Ocidental, barrar o avanço da China no continente e construir uma nova ordem internacional.
Nesta semana, a Casa Branca deu a largada para uma ofensiva contra o Brasil, instrumentalizando a suposta censura contra plataformas digitais como desculpa para mandar alertas ao país e ameaçar com a suspensão de vistos para autoridades que cometam atos de censura.
Fontes do governo confirmaram ao UOL que a ofensiva tem um só objetivo: criar as condições ideais para que, em 2026, a eleição no Brasil seja marcada por uma ampla atuação das plataformas digitais, em apoio ao bolsonarismo.
Nesta quarta-feira, um comitê da Câmara dos Deputados dos EUA aprovou um projeto de lei que pede o fim de vistos e deportação para autoridades estrangeiras que adotem censura contra empresas americanas ou pessoas nos EUA. Durante o debate, deputados republicanos deixaram claro que a inspiração para a lei havia sido a atitude do Brasil contra a plataforma X.
Minutos depois, foi a vez do Departamento de Estado fazer um alerta ao Brasil, indicando que a censura não era compatível com a democracia. O texto foi lido como uma ameaça.
Um dia antes, Elon Musk sugeriu que poderia confiscar bens do ministro Alexandre de Moraes, enquanto a base mais radical do partido republicano passou a fustigar o Brasil e denunciar uma suposta ditadura. Ao mesmo tempo, um processo legal foi iniciado nos EUA contra o ministro brasileiro.
Em todos os casos, o país é apresentado como uma "ameaça" à democracia, numa inversão de fatos e omitindo as violações cometidas pelas plataformas no Brasil. Não são citados ainda os casos de ataques contra as instituições democráticas no país e a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por participação em uma tentativa de golpe de estado.
A omissão e a nova narrativa fazem parte de uma estratégia deliberada também nos EUA, onde os autores dos ataques de 6 de janeiro de 2021 contra o Capitólio foram perdoados e classificados como "heróis".
O UOL apurou que a ofensiva irá continuar, com a consideração de eventuais sanções contra indivíduos no Brasil.
Objetivo
Com o caminho livre para que plataforma possam agir no Brasil em 2026, e com uma pressão para que Bolsonaro não seja condenado, a esperança do governo Trump é de garantir que, no próximo ano, a eleição no país coloque no poder um governo aliado a seus interesses.
Com a Argentina governada por Javier Milei e o Brasil com aliados do bolsonarismo, Washington estabeleceria uma aliança que, em sua visão, desmontaria o Brics, enfraqueceria o Mercosul e, acima de tudo, afastaria a China de sua influência no continente latino-americano.
Trump e sua equipe não escondem que Pequim é o grande adversário na construção de uma nova ordem internacional que possa perpetuar uma hegemonia americana.
Desmantelar a presença chinesa na América Latina, portanto, seria um passo fundamental nessa estratégia global.
A própria disputa pelo Canal do Panamá é, no fundo, uma ofensiva contra a influência chinesa num dos locais mais críticos do transporte global.